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Almas Férteis

por Sílvio Reda *

Viver é um exercício constante de expansão e de introspecção. Há o momento de sairmos, de nos tornarmos transeuntes do mundo e há o instante de nos voltarmos para nós, tornando-nos agrimensores de nós mesmos.

Tanto sair como ingressar pressupõe compreensão. Compreender a si é imprescindível para entender o que está acontecendo fora de si. Ocorre que hoje em dia somente as atrações do mundo exterior são valorizadas e incentivadas. Aqueles que se dispõem a ver-se por dentro pagam a taxa de serem encarados como excêntricos. Quem melhor se enxerga por dentro, mais nítida e honestamente transparece para fora.

Esse desencontro consigo tem gerado uma sociedade apressada e que a quase tudo enxerga como algo descartável. Os sentimentos e as próprias pessoas passaram a mercadorias ambulantes. Há um mercado de interesses e não uma comunidade de valores. Mas não precisamos ser pessimistas acreditando que estamos perdidos. Não estamos, o que há é que estamos, isso sim, desacostumados a valorar. Como o ex-aluno que há muito não vai à escola e perde o ritmo e o talento frente à realização das lições dadas e exigidas. Há muito que não comparecemos às aulas dos verdadeiros e honestos sentimentos; há muito que deixamos de freqüentar a classe de um melhor comportamento moral e ético; há muito que deixamos de nos expressar por um olhar, por um abraço, por um beijo. Estamos desabituados a estas singelezas e sutilezas da nossa própria natureza humana, porque um dia passamos a preferir a mecânica grosseira da satisfação rápida e interesseira de nossas necessidades, do que satisfazê-las diariamente pela própria noção de esforço e responsabilidade. De sujeitos começamos a nos tratar como objetos.

Contudo, há um fertilizante que nunca perece em nossas almas. Um fertilizante chamado amor. Almas férteis são aquelas que permitem o plantio dos sentimentos e das intenções alheias em si e que do que em si possuem no outro plantam. Que confiam na boa semente de seu semelhante. Que tratam e cuidam dessa cultura amorosa do dar e do receber sem a qual ninguém sobrevive. Almas férteis se encontram no arado de um olhar, no adubo natural de um abraço, nas estações sempre propícias de se colherem beijos e mais beijos. Almas férteis alimentam e são alimentadas em qualquer situação. Sabem que nada é descartável, porém tudo inesgotável e por estarem cientes disso estão sempre prontas a recomeçar de qualquer oportunidade, pois toda ocasião, para elas, se torna um momento qualificado para melhorar o que em si sempre pode ser melhorado ampliando a realidade no cotidiano do mundo. Almas fecundas não se encontram em qualquer fazenda existencial, mas toda fazenda é capaz de produzi-la e tê-la, pois onde houver sido deixada uma semente de amor haverá a capacidade divina de fazê-la fecundar.

Somos a semente e somos o solo. Que saibamos eclodir no solo alheio que nos recebe em seu plantio, bem como receber no nosso a semente que nos confiam fazendo dela planta que se soma e se integra a nós mesmos.


Crônica inspirada em minhas conversas com Fernanda Melchior Griggio, a Alma Fértil e o Amor constante em minha vida.



* Sílvio Reda é advogado em Porto Alegre

beckreda@yahoo.com.br