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Wellen de Barros
Coluna "Sala de Concerto"

Callas

Wellen de Barros

Uma homenagem digna à personalidade mais intrigante do mundo da ópera – Maria Cecilia Sofia Anna Kalogeropoulou - para o mundo apenas Maria Callas que completaria 90 anos no dia 02 de Dezembro de 2013.

Callas, personagem vivido devotadamente por Cláudia Ohana sob a batuta de Marília Pêra, atriz de renome não apenas conhecida por sua capacidade inigualável como atriz, mas profunda conhecedora e admiradora de Maria Callas, daí seu toque de classe, dão ritmo e suavidade a densa história de vida dessa revolucionária musicista que definitivamente mudou a forma de se representar Ópera.

(N.E. CALLAS, peça em cartaz no Teatro Itália, em São Paulo, com Cláudia Ohana e Cássio Reis, direção de Marília Pêra, texto de Fernando Duarte).

Cássio Reis vive com muita elegância o jornalista e amigo pessoal de Callas, John Adams. Um encontro num misto de admirador e jornalista provoca o público a refletir a medida que Callas vai descortinando pouco a pouco seu olhar para a vida.

Maria Callas aos olhos humanos tinha tudo para ser o oposto do que alcançou, pois logo na infância se deparou com uma mãe neurótica e traumatizada pela separação; viu em Callas uma fonte de fazer dinheiro. Impunha a filha a participar de festivais e mais festivais e nos momentos de descanso, como qualquer criança, Maria Callas tinha que estudar.

Maria aceitava aquela educação tirana e sem afeto numa tentativa desesperada de conseguir o amor de sua mãe que somente tinha olhos para sua irmã. Dizia que Callas era gorda como uma vaca leiteira. Aos poucos aquela menina doce e frágil vislumbrou um caminho para ser amada. Amor e admiração que tomou conta do mundo. E logo a jovem de apenas 28 anos era dona do seu destino deixando para trás lembranças que marcaram sua vida para sempre.

Talvez seja esse o maior motivo da severidade e obstinação com que Callas rapidamente conquistava a admiração de todos por onde passava. Com uma voz celestialmente generosa que a possibilitava deslizar desde o timbre grave de uma Carmen ao lírico ligeiro de uma Traviata.

Era dessa forma absoluta e impressionante que Maria Callas ganhava o mundo.
Uma precisão absoluta musical, uma fonte inesgotável de emoção deu vida a milhares de personagens: Medeia, Tosca, Lucia, Butterfly, Adriana Lecouvreur, Améila, Norma e tantos outros. Mas Norma a eternizou, pois a fez voltar em cena 32 vezes.

Mas o que há de tão instigante nessa personalidade que tinha o mundo a seus pés ao mesmo tempo que era rejeitada pelo amor da sua vida? Será que sempre que transformamos um ser humano em Mito automaticamente perdemos a verve da pessoa humana? Porque Callas ao mesmo tempo que tinha muitos amigos não tinha ninguém. Seus últimos anos se passaram num apartamento em Paris completamente isolada e triste. Remoendo seus momentos de glória que a empurravam cada vez mais ladeira abaixo, num mundo soturno e solitário.

Talvez ele reencontrasse aquela menina magoada e triste de sua infância fazendo todas as vontades da mãe por uma simples migalha de amor. Mas ela investiu tudo! Virou uma verdadeira fera para proteger aquela menina gorda e desengonçada. Ela até fez regime e se transformou numa mulher desejável aos olhos dos outros. Ela tentou de tudo para sufocar aquela menina carente, mas o seu destino a trouxe de volta.

No auge de uma carreira primorosa se afastou para se dedicar ao seu conterrâneo, o magnata Aristótelis Onassis - armador grego aparentemente um homem sem grandes atrativos físicos, mas foi ele quem arrebatou o coração daquela menina frágil, que habitava no ser da Cantora mais badalada da época.

Essa menina protegida e sufocada no temperamento passional da mulher Maria Callas, essa menina veio a tona, pois foi a primeira vez que era amada, admirada mesmo que de um modo muito peculiar Onassis de ser, o fato é que Maria Callas encontrava naquela convivência repartida sua total razão de ser. Não havia espaço pra mais nada.

Convites recusados, carreira estagnada. Agora era importante que a menina vivesse um conto de fada pois queria ser feliz para sempre ao lado do “príncipe” que encontrou.

Eram muitas recordações naquele apartamento fechado tendo apenas para conversar sua governanta, amiga leal de longa data.
O que restava de vida para aquela mulher que foi roubada desde a infância no seus direitos essenciais? Ela não teve o amor da mãe, ela não teve o amor do homem que amou, ela não teve direito a dar seu nome ao filho que teve e que horas depois de nascido morreu.

Uma "mulher do destino", como se intitulava. Um reencontro da menina mulher que transferiu para o mundo a razão do seu próprio destino.

Maria Callas: Orgulhosa demais, frágil demais.

Cartaz da peça de teatro Callas

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Wellen Barros - Primeiro Soprano integrante dos corpos artísticos do Theatro Municipal do Rio de Janeiro (Coro). Preparadora artística de bailarinos premiados nos principais festivais de dança. Pesquisadora sobre música, dança, teatro e suas interpelações. Participante do grupo de estudo sobre o Dramaturgo William Shakespeare, sob orientação da maior especialista brasileira no assunto - Bárbara Heliodora. Administra o BLOG da primeira bailarina do Theatro Municipal - Cecília Kerche (Kercheballet - http://kercheballet.blogspot.com) e o BLOG Sala de Concerto (http://salaconcerto.blogspot.com).

E-mail: wellenmbarros@gmail.com

Publicado no Portal da Família em 24/09/2014

 

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