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João Malheiro, educador
Coluna "Pinceladas Educacionais"

O MAL DO IGUALITARISMO NA EDUCAÇÃO

João Malheiro

Certo dia, um professor universitário, ao não conseguir demonstrar aos seus alunos de forma convincente os males e perigos dos princípios igualitários do comunismo, defendidos por seus pupilos, propôs-lhes a seguinte experiência, enquanto entregava os resultados das primeiras provas: “Então, a partir de agora, todos receberão a mesma nota, conforme a média das notas. Hoje todos estão com 7”. Os bons alunos, meio perplexos, concordaram com o critério, e os mais fracos ficaram felizes. Na segunda prova, tendo em vista que um grande esforço não valia mais à pena, os bons alunos naturalmente relaxaram e os maus alunos mantiveram os mesmos tristes hábitos preguiçosos. Na entrega das provas, o professor anunciou: “Hoje, nesta segunda prova, todos ficaram com 5”. Os mais inteligentes, que nunca tinham tirado uma nota baixa, obviamente ficaram descontentes. Já os piores alunos, estes continuaram felizes...

Acredito que não precisamos continuar a história para deduzir quais foram as notas das seguintes provas e qual o resultado final do período. Mas acredito que tanto os bons alunos da história quanto os leitores deste artigo conseguiram enxergar qual é o perigo de confundir igualdade com igualitarismo, foco deste artigo.

O princípio da igualdade parte da tese que todos somos iguais em uma série de âmbitos, como em dignidade, direitos, oportunidades, independentemente do sexo, raça, religião, nacionalidade, etc. Mas diz também que somos muito diferentes em temperamentos, gostos, ideias, opiniões, projetos de vida, virtudes, capacidades, talentos, atitudes e comportamentos. O porquê de sermos diferentes é um tema que nos faz pensar, tanto do ponto de vista filosófico quanto do religioso – mas não pretendo aprofundá-lo agora. O que gostaria sim de salientar é que, tendo em vista essa ampla diversidade, parece óbvio que todas as pessoas, desde a mais tenra idade, necessitam ser ajudadas, através da educação, a desenvolverem essas potencialidades e, principalmente, a perceberem que, em grande parte, dependerá da sua liberdade alcançar ou não o seu melhor. Que elas devem se sentir responsáveis por trabalhar muito e bem, se quiserem merecer melhores patamares sociais, econômicos e humanos.

Já o igualitarismo defende que, apesar de todas essas diferenças, todos têm que ser iguais, independentemente do mérito e da exigência. Não acredita que as pessoas reajam de forma diferente aos estímulos externos e internos. Acredita que um “Estado de bem-estar” deve ser o responsável por essa igualdade e que é possível criá-la pela arrecadação e correta distribuição de impostos, de forma justa e incorrupta. Saúde, alimentação, educação e moradia devem ser fornecidas por essa “mãe-governo” e nosso grau de responsabilidade para alcançar esses bens será reduzido ao mínimo. O melhor não recebe mais, nem o pior menos: a exigência perde o seu sentido.

Com a perspectiva dos anos que o século passado ilumina, parece hoje em dia difícil acreditar que alguém possa cair nessa falácia ideológica do igualitarismo. Entretanto, se analisamos as tendências de alguns governos atuais, parece que ainda não aprenderam a lição, principalmente ao examinarmos algumas políticas assistencialistas como bolsas família, escola, remédio, leite... Consequentemente, tantos diretores de escola hoje desabafam na primeira oportunidade em que são questionados sobre a existência/ausência da devida autonomia da escola. Tantos professores deixam transparecer desinteresse e desmotivação ao se sentirem marionetes de um sistema educacional que os deixa sem liberdade e sem voz. Quantos alunos se sentem medíocres quando são favorecidos por tramóias da aprovação automática, cotas, favores, porque têm que ser iguais aos que se esforçaram e conquistaram notas/vagas por mérito próprio.

Antigamente, era comum ouvir entre os educadores que não se podia dar o peixe aos alunos, mas sim ensiná-los a pescar. Hoje é comum escutar dos mesmos professores, tanto nos colégios públicos como nos particulares, que o necessário agora é dar “fome” aos alunos, pois o que eles demonstram cada vez mais é desinteresse, desmotivação, falta de perspectiva, ideais baixos, enorme imaturidade e uma vergonhosa irresponsabilidade. Perguntemo-nos: por que está acontecendo esta vertiginosa queda nos ânimos estudantis? O que é que mudou? Será que tem alguma relação com o “Estado de bem-estar”?

Sou da opinião de que todas essas mudanças referidas acima podem estar relacionadas com políticas igualitaristas na área de educação, que de alguma maneira não só desfocam os fins da educação, como os deixam medíocres. Quais devem ser esses fins?

Em primeiríssimo lugar, a verdadeira educação deve ajudar cada aluno a desenvolver suas capacidades e habilidades ao máximo para alcançar uma maior plenitude pessoal. Para isso é preciso olhar cada aluno na sua singularidade. Cada um tem um caminho único a andar, um ritmo próprio, um temperamento dominante, uns talentos que precisará potencializar e uma vocação a descobrir e desenvolver. Em seguida, é preciso ir fomentando na criança, dentro dos limites éticos, uma verdadeira autonomia, que significa ir ganhando uma maior capacidade de usar corretamente sua liberdade, por meio das virtudes morais. Por fim, ela deverá descobrir que uma decorrência desse amadurecimento nas virtudes é a abertura aos demais, procurando desvelar a riqueza do espírito de serviço e da entrega aos demais, próprios da verdadeira amizade.

Além de se fomentar essa diversidade intrínseca, a educação deve buscar também cada vez mais novas alternativas de organização escolar, pois isto é próprio do direito dos pais de escolher o que acreditam ser o melhor para os seus filhos. Nos países desenvolvidos, já se vêem Charter Schools (uma comunidade administra uma escola pública com total autonomia), Home Schools (os pais se encarregam de escolher os professores para os seus filhos), Educação Personalizada e diferenciada por sexo (a escola educa tendo em conta as particularidades de aprendizagem de cada sexo, como diferenças de ritmos, variações afetivas, desenvolvimento cerebrais e hormonais diversos, etc), Cheque Escola (school voucher), entre outros.

Concluímos, portanto, que é preciso acordar para certos ares “dominadores” que pairam no ar da nossa educação atual. Se continuarmos a basear a educação em uns mínimos iguais para todos, infelizmente, teremos que continuar a condenar os jovens a uma vida medíocre, que evidentemente não é compatível com o bem e a felicidade.



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João Malheiro é doutor em Educação pela UFRJ e diretor do Colégio Porto Real, Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro. É autor de vários livros como "A Alma da Escola do Século XXI", "Fortalecer a Alma da Escola" e "Escola com Corpo e Alma", da Editora CRV Ltda. É palestrante sobre vários temas de educação em colégios e universidades. Especialista sobre Valores e virtudes ética na escola. No final de 2017, lançou o seu quarto livro - A PRECEPTORIA NA ESCOLA. UMA EXPERIÊNCIA PEDAGÓGICA DE SUCESSO, finalizando sua "tetralogia".

E mail: joao.malheiro@colegioportoreal.org.br

Publicado no Portal da Família em 21/07/2011

 

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