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Floriano Serra

Crônicas da Vida a Dois

QUEM TEM MEDO DE AMAR?

Floriano Serra

Alguns homens e mulheres usam a seguinte lógica para direcionar sua vida amorosa: “Ninguém perde o que não tem. Como não gosto de perder, jamais amarei alguém, jamais terei um grande amor. Assim não correrei o risco de perdê-lo.”

Apesar dessa “lógica”, essas pessoas quase sempre são muito envolventes, muito simpáticas e conseguem facilmente atrair admiradores. Algumas delas chegam até a  despertar ciúmes gerais, porque quase sempre monopolizam as atenções. Desta maneira, estão sempre cercadas de paqueras – que nunca passarão disso: simples paqueras. O verdadeiro amor passará longe – ou até chegará muito perto, mas a pessoa, com seu medo de sofrer desilusões, preferirá não vê-lo, nem senti-lo.

Claro que esse processo não é assim tão racional e linear. É um “jogo” psicológico interno, fundamentado em antigas inseguranças e ressentimentos adquiridos no passado, que leva a pessoa a não confiar no parceiro, a não entregar–lhe seu coração. Só que o próprio indivíduo não percebe isso. Está sempre praticando ações e tendo reações que afastam o parceiro com o qual estava prestes a iniciar um relacionamento mais sério. Quando todos pensam: “Agora, vai!” – não vai. Logo vem a noticia de que, aquilo que parecia uma bela história de amor...já era.

É lamentável que alguém possa passar a vida inteira sem amar de verdade, apenas por medo de amar e eventualmente perder esse amor.

É lamentável, porque, se essa pessoa pensa que, amando de verdade, confiando e entregando por inteiro seu coração a um parceiro, pensa que irá chorar, magoar-se, sofrer de ciúmes e de saudades, ficará noites a fio sem dormir...se essa pessoa pensa que tudo isso acontecerá se amar de verdade... então estará absolutamente certa.

Nenhum amor de verdade pode prometer paz eterna aos parceiros. É possível ter paz com paqueras e ficantes, porque, tanto faz se estes ficam ou se vão embora. Mas esse tanto faz não existe no amor de verdade, porque faz toda a diferença do mundo estar com a pessoa amada por perto – fisicamente ou em pensamento. Faz toda a diferença do mundo saber que pode confiar inteiramente em alguém e entregar-lhe o que de mais puro e intenso tem dentro do seu coração - e saber-se correspondido. De tão grande, de tão maravilhoso e tão gratificante sendo esse amor, lógico que haverá o medo da perda, a dor da saudade, a angústia do ciúme.

Ah, mas como vale a pena! Como vale a pena! Por que, para compensar, há a alegria infinita de não estar só no mundo. Há o prazer de confiar, de compartilhar corpo e alma com alguém, há o conforto de estar junto, falando, tocando, sentindo ou apenas em silêncio. Ou seja, do outro lado do medo, está simplesmente a felicidade. Será leviano quem prometer águas mansas no amor de verdade, porque ele é todo feito de coerências e contradições, como ternura e paixão, alegria e tristeza, calma e pressa,  gritos e sussurros, lágrimas e gargalhadas, dúvidas e certezas.

Exatamente como é a Vida.

Se você tiver, na sua vida inteira, um único grande e verdadeiro amor e caso venha sofrer a perda dele, sentirá que terá valido a pena todos os segundos vividos ao seu lado, desde que tenham sido intensos e sinceros.

Nada mais posso dizer para tranqüilizar àqueles que têm medo de amar pelo medo de perder, exceto que, sem tentar acertar, a única opção que resta é a de continuar errando.


Mãos dadas, segurando um coração

 

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Floriano Serra é psicólogo clínico e organizacional, consultor, palestrante e presidente da SOMMA4 Consultoria em Gestão de Pessoas e do IPAT - Instituto Paulista de Análise Transacional. Foi diretor de Recursos Humanos em  empresas nacionais e multinacionais, recebendo vários prêmios pela excelência em Gestão de Pessoas. Anteriormente, já atuou como psicoterapêuta de adultos e casais. É autor de uma dezena de livros e mais de 200 artigos sobre o comportamento humano - pessoal e profissional, publicados em websites, jornais e revistas, inclusive no Exterior.

E-mail: florianoserra@somma4.com.brflorianoserra@terra.com.br

Publicado no Portal da Família em 06/09/2009

 

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