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Eduardo Gama

Coluna "Poemas e Canções"

Por uma renovação cultural

Eduardo Gama

É fato vivermos em uma época pobre culturalmente. Mesmo na canção popular, uma de nossas forças artísticas, pouco há de novo. Com isso quero dizer bons compositores, já que cantores e cantoras os há. Mas, só para citar um exemplo: a bossa nova foi renovada? Ou mesmo rejeitada em favor de um outro estilo? Quem é o herdeiro de Chico Buarque, que escreveu “meu maestro soberano foi Antônio Brasileiro”?, ou seja, Tom Jobim? Um novo Vinícius anda por aí? Não o vemos... Certo, pode-se levantar uma ou outra exceção. Mas basta para quem já teve tantos bons compositores? 

Talvez não seja exagero afirmar: nosso momento cultural é muito pobre. Imaginemos que, na década de 1950, Guimarães Rosa, Carlos Drummond, Bandeira, Cecília Meireles, João Cabral, Jorge de Lima publicavam suas obras. Esse momento existiu! Há tempos Adélia Prado não publica um novo poema e, mesmo seus últimos livros denotavam um certo esgotamento; Bruno Tolentino faleceu perante um silêncio constrangedor. Note-se: todos esses escritores têm ou tinham mais de sessenta anos (sendo generoso). Qual novo autor pode sentir-se herdeiro sequer da geração maravilhosa citada da década de 1950?

Sabemos: desde a década de sessenta, as chamadas Humanidades foram tomadas pela política. Só a arte que fosse “contra a opressão” era admitida. Não valia a pena falar da vida, da morte, dos dramas humanos; aliás, o único drama era a opressão do poder. Não se pode nem dizer que o mundo virou de cabeça para baixo porque, na realidade, o que houve foi que, em nome de ser “contra a repressão”, os valores, o que faz com que uma pessoa atinja a perfeição para a qual foi criada, simplesmente foram chamados de “estratégia repressora”, “ultrapassado”, “careta”, etc. Toda autoridade deveria ser posta abaixo: “é proibido proibir” foi o famoso lema da juventude parisiense de 1968. Não se deve respeitar nem pais, nem professores e muito menos qualquer autoridade constituída. A isso, hoje, podemos chamar de “herança maldita”. Explico-me? Será que hoje não percebemos que a tal crise de autoridade gera jovens egoístas, destrutivos e ... carentes de autoridade. Assim como a criança pequena que não recebe a devida atenção dos pais bate nos irmãos, na mãe, faz bagunça, tudo para chamar a atenção, assim jovens sem qualquer noção de autoridade espancam “coleguinhas”, queimam mendigos, batem em trabalhadoras porque pensavam ser prostitutas!, etc.,etc.

O que isso tem a ver com a cultura? Tudo. No momento em que não há valores, sequer a discutir, quando tudo se resume a “conscientizar” o jovem – ou seja, dizer a ele o que deve pensar, veja que autoritarismo! –, educa-se uma geração sem criatividade, sem capacidade de pensar por conta própria, sem saber o que fazer com a própria liberdade: queimo um índio ou acesso o youtube para ver a dança do quadrado? Nos melhores casos, formam-se jovens aptos a passar no vestibular. Cultura resume-se a ler os resumos dos livros obrigatórios da Fuvest?, a “ler é chato” (entre os jovens), a “não tenho tempo” (entre os adultos, que têm muito tempo para a TV)? Com isso, com essa base, não há cultura digna desse nome. Daí que não seja chocante que funk seja música, que as pessoas com acesso a livros, música, enfim, a uma educação de alto nível, escutem música sertaneja de péssima qualidade, música do Creu a todo volume no carro, conforme verifiquei em uma praia considerada para gente rica, a Riviera de São Lourenço.

Mas é nesses momentos que a cultura mostra a sua força: as pessoas notam que ela faz falta. Em primeiro lugar, sentem vergonha de sua falta de cultura: jamais encontrei alguém que me dissesse: “Não leio mesmo e que se dane! Nunca li nada e nem quero ler.” Isso porque a sentem que ela é importante. Por que então não a suprimem? Primeiro, porque, no caso da leitura, é um hábito, e, como tal, demanda um certo esforço. Segundo, porque não há muitas pessoas nas quais se espelhar. Ler O Código da Vinci ajudou alguém a ficar mais culto? Pelo contrário, emburreceu, dado as falsidades históricas ali contidas.

Pela importância que tem, começo a notar uma revalorização das artes hoje em dia. Temos poucas orquestras, mas a OSESP, por exemplo, sempre toca com lotação esgotada; cursos de filosofia começam a ser procurados, em regiões pobres, tanto da Venezuela (Projeto El Sistema), como em São Paulo, crianças e jovens aprendem a tocar fagote, oboé, violino, etc. E os resultados são ótimos: quem aprecia Mozart se humaniza. É pouco? Talvez seja muito, pois é o início de um longo trabalho, que precisa ser incessante, silencioso e encantador.



 

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Eduardo Gama, professor de redação e literatura em Jundiaí e Campinas. Mestres em Literatura pela USP, tradutor, jornalista e publicitário. É autor do livro de poemas "Sonata para verso e voz" e editor dos sites www.doutrinacatolica.com.br e www.revisaoetraducao.com.br

e-mail: redator@portaldafamilia.org

 

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