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O dinheiro e os filhos

José María Lahoz García

Enquanto dispuser de algumas moedas, sentirá a necessidade imperiosa de gastá-las imediatamente, até que não sobre nem um centavo. Se não tem dinheiro, não pára de pedir que lhe compremos algo. Será possível ensinar aos filhos como usar e administrar o dinheiro? A maioria dos pais está de acordo de que isso é possível, mas como?

O dinheiro, além de ser uma invenção que contribuiu para o progresso da humanidade, é uma realidade quotidiana, a par do elemento sociológico e cultural com o qual nossos filhos necessariamente terão de conviver. Tem um considerável valor funcional, mas nem sempre lhe damos a devida importância educativa.

Durante as férias de verão, os pais de César, de quatro anos de idade, observaram que quando saíam para passear de tarde, como de costume, e lhe perguntavam se queria um sorvete ou outra guloseima, ele recusava e continuava brincando. Como essa conduta se repetisse por vários dias, sendo de todo inesperada, concluíram que alguma coisa de anormal estava acontecendo e precisariam descobrir. Depois de algum rodeio, César confessou: 

- Se não compramos mais sorvete, economizamos para comprar aquele carro de passeio que a gente queria tanto!

Júlio, de quatorze anos, está continuamente recriminando os pais por não comprarem uma moto para ele, e em conseqüência se recusa a estudar. Sua mãe  me explicava que o que mais desejaria era ter dinheiro para comprar-lhe essa moto e ver se, assim, ele passaria a se interessar  pelos estudos.

São duas histórias reais, que exemplificam o ponto e o contraponto na educação do uso do dinheiro. Podemos afirmar que os pais de César estão desenvolvendo melhor tarefa educativa que os pais de Júlio, uma vez que César, com apenas quatro anos, é capaz de dominar um desejo muito apetitoso, estimulado por algo está muito distante no tempo, ao passo que Júlio, bem mais velho, não é capaz de cumprir suas responsabilidades, a não ser em troca de um bem material.     
       

Aprendizagens relacionadas ao dinheiro

Embora possa parecer óbvio, devemos nos assegurar de que os nossos filhos consigam assimilar certas aprendizagens relacionadas com o dinheiro. Tais aprendizagens não se adquirem de forma espontânea, mas são respostas a estímulos recebidos. Normalmente, se em casa lhes oferecemos modelos adequados, é frequente que as crianças ajam de maneira consequente. Entretanto nem sempre nem necessariamente é assim. Por vezes, como conseqüência de outras influências, ou por uma falta de sensibilidade com relação a certas aprendizagens, pode ocorrer que nossos filhos apresentem atitudes insensatas ou incoerentes em relação ao dinheiro. Convém, por isso, nos certificarmos que eles assimilem certas atitudes e hábitos, antes  que seja tarde demais.

Concretamente eles devem aprender que:         

1) Convém administrar o dinheiro de modo que uma parte seja guardada para, futuramente, adquirir bens de custo elevado.        

2) Dinheiro serve para obter coisas necessárias e úteis, como também para pagar alguns caprichos ou atividades de recreação.

3) Com o dinheiro se pode ser solidário e ajudar outras pessoas. 

4) Se cuidarmos bem de tudo que usamos, evitamos gastos desnecessários, o que nos permitirá poder comprar outras coisas.

5) Dinheiro se obtém em troca de trabalho. 

6) Todos nós temos o direito de dispor de dinheiro como fruto do trabalho, não, porém, em troca de nada, o que seria um privilégio.        

7) É preciso administrar o dinheiro de forma a nos permitir enfrentar os gastos de um determinado período de tempo.

A maneira de sabermos se realmente eles aprenderam, será observar se, de modo progressivo, mostram formas de comportamento condizentes com as aprendizagens acima.        

A idade dos filhos condiciona as aprendizagens que lhes possamos propor.        

A prudência nos adverte que não é possível ensinar-lhes tudo de uma vez. Além do mais, sua maturidade intelectual lhes impediria algumas aprendizagens. Conseqüentemente, o recomendável é estabelecer uma seqüência de objetivos conforme a idade da criança: 

Até os sete e oito anos, podemos ensinar de preferência os três primeiros tipos de aprendizagem. São as primeiras atitudes de economia, de solidariedade e do uso do dinheiro.        

Entre os oito e onze anos, ou doze - quando já se tem uma visão menos egocêntrica do mundo e se é capaz de compreender e de desenvolver alguns raciocínios, como também de relacionar algumas conseqüências com suas causas - vem o momento de se descobrir a relação entre dinheiro e trabalho, e de aprender a relacionar o cuidado das coisas com o dinheiro. Podemostratar, nesta fase, além dos três primeiros tipos, das aprendizagem que se apresentam em quarto e quinto lugar.        

A partir dos doze anos, com o progressivo aflorar do pensamento formal e da capacidade temporal, podemos ensinar-lhes a administrar, a ser previdentes e a dar valor aos  seus próprios direitos, obrigações e privilégios. Procuraremos chegar ao final da lista de objetivos.

O uso do dinheiro antes dos oito anos

Desde os primeiros anos é aconselhável aproveitar qualquer circunstância para que as crianças participem de atividades de compra. Podemos pedir-lhes que elas mesmas peçam ao vendedor o que vamos comprar, paguem com o dinheiro que lhes dermos e esperem o troco. Será um primeiro contato delas com o dinheiro e as compras.        

Quando alcançarem maturidade suficiente para compreender as quantidades e os preços de algumas coisas do seu interesse (guloseimas, pequenos brinquedos, material escolar...), podemos aproveitar para lhes dar certa quantidade de dinheiro, para que decidam onde comprar: se numa banca de revistas, numa livraria etc. Nas primeiras vezes, vale a pena ajudá-las a tomar as suas decisões.        

É importante usar a mesma estratégia para a aquisição de objetos supérfluos e objetos necessários (lápis, apontador, cadernos...). Trata-se, aqui, de fazê-los participar, desde cedo, na compra dos dois tipos de produtos, pois alguns de nossos filhos podem pensar que as coisas necessárias e úteis são algo que lhes é dado, sempre, de graça, e por isso não precisam nem pensar a respeito. Por isso, tentaremos assentar as bases para que em seu campo de visão econômica apareçam as diferentes facetas dessa realidade.        

Simultaneamente, teríamos que providenciar para eles um cofre ou objeto similar, onde possam guardar o dinheiro que sobra de suas compras, ou o que venham a receber de familiares ou de amigos, e que não gastaram. Junto com a  aquisição do cofre,  deveríamos explicar-lhes que nele se pode guardar o dinheiro que deve servir para comprar alguma coisa para seu uso próprio ou para presentear alguém. Convém que  desde o princípio lhes expliquemos as duas finalidades, ajudando-os a planejar alguma em particular (algo que lhes dê prazer, como para o aniversário da mamãe...). Também é o  momento de aproveitar qualquer acontecimento da atualidade para incentivá-los a usar parte desse dinheiro em donativos que ajudem outras pessoas, mas, sempre, deixando-os livres para decidir sobre a quantidade.        

Como em outras facetas educativas, é preciso acompanhá-los em seus primeiros contatos com o dinheiro, a fim de que se tornem capacitados para perceber diferentes aspectos da realidade e, graças a isso, aprenderem a tomar decisões razoáveis. Mais para a frente, à medida que notarmos seus progressos, aumentaremos sua liberdade e o grau de dificuldade para suas novas decisões. 

filhos

José María Lahoz García - Pedagogo (Orientador escolar e profissional), Professor de Educação Primária e de Psicologia, e de Pedagogia na Escola Secundária. 

Fonte: Solohijos - www.solohijos.com

Tradução:  Maria do Carmo Ferreira 

 

Publicado no Portal da Família em 16/03/2009

 

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