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Sobre o aborto dos anencéfalos

Prof. Dr. Marcelo M Seneda

Nos últimos dias temos visto à nossa volta uma grande polêmica: a questão do aborto dos anencéfalos. Diversos núcleos apresentam argumentos prós e ontras, em uma discussão extremamente importante, pois se trata de tornar institucional a decisão sobre a continuidade ou não de um evento referente à vida. Considerando o parecer francamente favorável do Ministro da Saúde ao aborto, tenha o feto encéfalo ou não, causa-me preocupação alguns argumentos mencionados pelos grupos pró-aborto. Vou abrir um parêntesis, para enfatizar o uso do termo "aborto", pois considero um eufemismo essa recente substituição por "antecipação programada do parto".

Pois bem, os grupos pró-aborto enfatizam o sofrimento da gestante de um feto anencéfalo, alegando uma 'agressão à dignidade da pessoa humana'. Seguramente essas mães sofrem e a preocupação com o sofrimento alheio é sempre meritória. No entanto, pergunto: qual mãe não sofre por seus filhos? Sofre mais a mãe cujo recém-nascido vem óbito em um curto período, ou aquela mãe que vê seu filho morrer lentamente, nos descaminhos da droga? Sofre mais a mãe cuja gestação enfrenta sérios riscos, ou aquela mãe que vê seu filho, saudável e bem-formado, contrair uma doença causada pela falta de saneamento básico?

Aliás, é possível mensurar o sofrimento?

Há outro aspecto muito sério. Os atuais recursos diagnósticos permitem a identificação de centenas de alterações durante a vida fetal. Síndromes diversas podem ser diagnosticadas relativa segurança. Então, depois do anencéfalo, qual será a próxima alteração fetal a justificar o aborto?

Isso me traz à mente qualquer coisa de "pureza racial" enrustida. Saber da surdez, cegueira, agenesia de membros, retardo mental, intersexualidade etc. não são situações capazes de causar sofrimento nas mães e pais, de "agredir a dignidade da pessoa humana?" Mas o mundo hoje tem se empenhado tanto na inclusão dos portadores de necessidades especiais, então como estabelecer quais anomalias podem ou não ser mantidas durante a gestação?

A ação pró-aborto é movida por um sindicato ligado aos profissionais da saúde. Fico surpreso com isso, seria de se esperar ações pró-vida dessas pessoas. Algo como cobrar do Ministério mais investimentos no diagnóstico precoce de anomalias embrionárias e fetais. E incentivar pesquisas para, a partir do diagnóstico, haver medidas capazes de atuar na ativação ou repressão dos genes responsáveis por tais alterações. Afinal, a seqüência gênica não pode ser alterada, mas a epigenética hoje nos mostra ser possível modular a ação dos genes. Gostaria de ver o Ministro defendendo mais recursos para a Saúde, eliminando doenças vinculadas à falta de saneamento básico. Gostaria de ver os profissionais desse sindicato promovendo uma educação de qualidade aos jovens e adolescentes, para permitir o exercício da sexualidade de maneira saudável e equilibrada.

Finalmente, enfatizo minha estranheza à afirmação do Ministro, afirmando uma acurácia de 100% no diagnóstico da anencefalia. Em geral, os profissionais das ciências da vida evitam sistematicamente o "100%", porque todos os dias somos surpreendidos com fatos inesperados. Mais ainda, me recordo de um fato amplamente noticiado pela mídia há alguns anos. Por apresentar aumento de volume abdominal, dor e náuseas, uma mulher recebeu o diagnóstico de um tumor maligno, confirmado por ultra-sonografia. Meses de angústia depois, o suposto tumor "se transformou" em um bebê saudável, após parto normal.

Será mesmo tão eficiente assim o nosso atual sistema de saúde?

mulher e aborto

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Marcelo M. Seneda, DVM, MSc, PhD. Professor da Universidade Estadual de Londrina com doutorado em biotecnologia da reprodução e pós-doutorado em epigenética de gametas pela McGill University.
 

Publicado no Portal da Família em 05/10/2008

 

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