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O sentimento patriótico
David Isaacs

A virtude do patriotismo, entendida como um hábito operativo bom, supõe o desenvolvimento da capacidade intelectual para atuar com justiça, em função de alguns valores reconhecidos e assimilados. Mas este hábito necessita, inicialmente, de uma base afetiva que pode ser desenvolvida durante toda a vida, ainda que de um modo especial na infância.

O sentimento patriótico se forma a partir de uma disposição de atração para o lugar de nascimento nos primeiros anos da vida, que pouco a pouco vai estendendo-se para estruturas mais amplas e complexas: município, província, região e nação.

O dever dos pais, neste sentido, consistirá em buscar os meios para que o filho vá aprendendo quais são os valores específicos de seu entorno imediato. Isto ajudará o filho a sentir-se unido aos companheiros que vivem estas mesmas experiências -nos montes, ao lado dos rios, nos caminhos, etc.-, nas distintas estações do ano. Quem não tem lembranças de sua infância neste sentido?

Mas este sentido de unidade, produzido pelas experiências em comum, tem que abrir-se também à unidade no conhecimento de outros aspectos culturais menos relacionados com a natureza. Tratar-se-á de explicar aspectos da história local, de seus heróis, de seus personagens famosos, e de ensinar-lhes costumes típicos, bailes, etc., de tal forma que se sintam parte de um trajeto histórico comum. Mas não se trata de reduzir esta atenção à localidade imediata, porque haverá valores que podem ser compartilhados com todas as pessoas que habitam em uma região ou, inclusive, no mesmo país ou no mundo inteiro. O objetivo consistirá em conseguir que os filhos se sintam muito vinculados a seu entorno imediato e, sem perder esta vinculação, abrir-se aos valores comuns a outros setores geográficos mais amplos.

E, talvez, aqui nos encontramos com um dos problemas mais importantes na atualidade, para que se desenvolva a virtude do patriotismo. Realmente, existem valores comuns em nível pátria que dirigem o destino de seus membros, que devem ser defendidos e com os quais se trata de ser leal?

Estamos falando de um sentimento patriótico que é necessário para o desenvolvimento da virtude. Mas, se não houvesse mais do que esse sentimento, o patriotismo não seria operativo nem valioso. Trata-se de compartilhar valores com os compatriotas, em busca de uma situação melhor ou em defesa dos bens conseguidos. Se recorrermos à observação, veremos como, em muitos países, houve um patriotismo muito desenvolvido em períodos de guerra, quando os indivíduos se esforçavam em defender seus direitos ou seus ideais. Mas quando não há guerra, como pode se chegar a compartilhar valores generalizados em um povo pluralista?

Reforçar e defender os valores

Os valores que podem ser vividos em nível pátria podem englobar-se no que poder-se-ia entitular "o bem comum". E esse "bem comum" requer o trabalho bem feito, com responsabilidade de todos os seus membros, a luta para conseguir uma sociedade justa, a paz e o respeito pela própria terra, as instituições, costumes, histórias e acontecimentos que existam.

Vimos antes como a criança pode aprender de sua pátria mediante a referência à sua história, à sua língua, à sua cultura, etc. O sentir-se parte deste patrimônio comum supõe, primeiro, conhecê-lo, e, a seguir, saber explicá-lo, transferi-lo aos demais. Neste sentido, parece claro que a missão dos pais é a de buscar os meios para que os filhos se encontrem com o patrimônio comum, levando-os a museus, comprando livros adequados, falando de sua história, destacando suas glórias e também seus erros, etc. Também, conseguir que sejam capazes de comunicar estes conhecimentos. Em nível local, será possível convidar os filhos a explicarem aspectos da história a pessoas que visitam a família e não conhecem o distrito. Em nível de pátria, tratar-se-á de fazer o mesmo com pessoas de outros países.

Por outro lado, pode-se educar os filhos para que cuidem adequadamente a própria terra em que vivem. A atenção aos detalhes de ordem e de limpeza, como não jogar papéis no chão ou não pintar as paredes, costuma chamar-se civismo. Mas se se compreende que o dever da pessoa é preocupar-se pelo bem comum de todos os seus compatriotas, estes atos podem ser considerados muito relacionados com o patriotismo. Alguns, com a preparação cientifica adequada, podem chegar a dedicar-se profissionalmente ao cuidado da natureza, a evitar a contaminação ou a poluição. Outros organizarão atividades, em seu tempo livre, para atender e cuidar o que é de todos. Isso também pode ser considerado como patriotismo se a pessoa se sente responsável em cuidar do que é de todos os membros de um país. E, a seguir, poderão sentir-se orgulhosos destes acontecimentos ou reconhecer as deficiências e fazer algo para corrigi-las. O patriota não é a pessoa que se queixa de seu país. O patriota criticará seu país, mas porá algum meio para corrigir o que criticou.

Além disso, haverá que ensinar aos filhos os costumes e instituições de toda a pátria, porque se se dedica todo o tempo ao estudo da região mais próxima, pode se perder de vista o que é a pátria completa, e pode resultar que dedique a atenção a desenvolver a virtude de um modo exclusivista, sem captar as necessidades do bem comum de todos os compatriotas.

Haveria que reconhecer que as crianças -e os adultos- necessitam freqüentes atos, simbólicos ou não, para sentirem-se membros de uma pátria. Neste sentido, pode ajudar: uma festa nacional, os acontecimentos de uma pessoa da própria nação no estrangeiro, uma partida de futebol internacional, programas na televisão sobre as regiões do país, desfiles militares, reuniões nacionais de profissionais, etc. Tampouco devemos desprezar os símbolos usados com freqüência, como são o hino nacional escutado com respeito ou a bandeira nacional. Se os pais ensinam seus filhos a escutar o hino nacional com atenção, se seus pais falam de sua história com esperança, se informam sobre os distintos aspectos do país, se os colocam em contato com o patrimônio comum, os filhos reconhecerão o que a pátria lhes deu e o que lhes dá. Respeitarão a pátria e poderão tentar lutar pessoalmente para que essa pátria seja a melhor possível.

Antes dissemos que o bem comum requer que cada um trabalhe responsavelmente, e que lute para conseguir uma sociedade mais justa e a paz necessária para o desenvolvimento do povo. Na prática, isto não é fácil, porque parece que o povo se divide em segmentos, buscando cada um seus próprios interesses à custa dos demais. Uma política de reivindicação de direitos tende a separar os esforços da comunidade, em lugar de uni-la. Portanto, tratar-se-á de ver como pode educar os jovens, para que captem a importância de sua contribuição pessoal ao país. Já falamos, em outras ocasiões, sobre as virtudes da justiça e da laboriosidade, mas nada dissemos, então, da relação entre estas virtudes e a virtude do patriotismo. O papel dos educadores, neste sentido, será, por um lado, viver com empenho seu dever para com os demais e, a seguir, explicar a necessidade deste esforço aos jovens.

Aqui unicamente vamos sugerir alguns pontos que convirá comentar com os filhos:

- Somente pode-se conseguir uma situação econômica estável em um país, se cada pessoa trabalha responsavelmente, pensando não só em seus direitos legítimos, como também em seus deveres e no bem comum.

- A justiça requer que cada um cumpra com as leis comuns -contanto que sejam justas em si- e, portanto, o patriotismo significa cumprir estas leis, pagar os impostos, utilizar o direito ao voto, etc.

- A justiça necessita, também, que cada um aproveite os meios previstos para conseguir maior justiça em todos os níveis. Portanto, para que possa haver uma pátria unida e forte, a pessoa deve participar ativamente em associações de pais, associações de vizinhos, governo local, etc., de acordo com suas capacidades pessoais.

- A paz é resultado da caridade vivida pelos membros de uma sociedade. Portanto, haverá que buscar o modo de viver a caridade com o vizinho e com todos os demais, respeitando a diversidade de opiniões, pondo-se de acordo para conseguir melhoras, e defendendo-se de qualquer tipo de ato violento que prejudique a paz.



Do livro "A educação das virtudes humanas e sua avaliação", de David Isaacs.

 

 

 

 

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